quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Porquê observatório?

Em sentido comum observatório é o lugar onde são feitas observações astronômicas; de onde são vistos os astros, as estrelas, as galáxias, as constelações, os cometas, etc… Numa outra acepção pode ser um mirante, de onde vemos uma paisagem, um rio, um vale, uma cidade, uma cachoeira. De todo modo, observatório é um local de onde se vêem as coisas, de onde se aprecia e examina aquilo que se vê.
Na vida comum o nosso observatório pode ser a mesa de um bar, uma cadeira de praia, a janela de nossa casa, uma cadeira no fundo da sala de aula, ou qualquer lugar de onde se vêem as coisas.
Para Carolina, no entanto, o tempo passou na sua janela e só ela não viu. Já para Caymi, o mar quebrando na praia é bonito.

A gente observa de tudo, se o outro engordou, se emagreceu, se está bronzeado, se está bem de vida, se piorou, se separou, se a nova mulher ou marido é mais bonito ou feio, se fez bom negócio. Enfim, de onde nós estivermos estamos reparando aquilo que acontece à nossa volta.
Do jardim do sítio de vovô eu observava as estrelas no céu, um céu imenso, como só se vê no campo, numa praia isolada, em silêncio, a admirar a extensão do céu estrelado. Dali, via como somos pequeninos, ante a imensidão do Universo. Dali podia-se respirar o ar puro da montanha, o ar fresco que vinha da mata, ouvia-se o cricrilar dos grilos, o coaxar dos sapos, o vento batendo na copa das árvores, o cantarolar dos rios batendo nas pedras, os vaga-lumes piscando… Podia-se pensar com calma na vida, sem pressa, analisar as coisas com a devida atenção e cuidado.
Hoje em dia acorda-se cedo, se vai com pressa para o trabalho, paga-se as contas, faz-se ginástica, a condução é lotada, o dia é corrido, o tempo não dá pra nada, almoça-se rapidamente e a conversa é ligeira. Enfim, dizemos que não temos tempo. Nossa vida é agitada e são tantas coisas a fazer que o nosso tempo vai embora. Ao final do dia, gostaríamos que houvesse algumas tantas horas a mais para que pudéssemos fazer aquilo que deixou de ser feito.
Como dizem os Titãs, devíamos trabalhar menos, complicar menos e ver o sol se por…É meus amigos, o tempo não para! E no Maracanã da vida o nosso cronômetro quase sempre assinala os quarenta e cinco minutos do segundo tempo.
Certa vez, fui a uma cidade do interior, chamada Monte Alegre de Minas, no triângulo mineiro. Cidade pequena, pacata, de boa comida, com povo tranqüilo, que naquela ocasião, vivia basicamente do plantio de abacaxi. Percorrendo-se a cidade viam-se os caminhões de abacaxi passando, os comerciantes negociando o preço, combinando seus negócios.
Estando lá, um dia fui visitar o parente de um colega de trabalho, que possuía uma fazenda, cuja casa simples onde morava ficava a uns duzentos metros da estrada que ligava Monte Alegre a Uberlândia. Sentamos, tomamos café, comemos bolo, queijo de minas, conversamos um bocado, sem pressa, como se faz nas cidades do interior, nas fazendas, nos pequenos povoados. Lá pelas tantas o dono da fazenda contou que havia tido uma proposta muito boa para vender parte dela, justamente aquela que ficava em frente à sua casa, para um empresário que ali queria construir um posto de gasolina. Então seu sobrinho perguntou se iria vendê-la, ao que ele respondeu: – Vou nada!Eu lá vou perder o meu sossego?! Ele não queria perder a paisagem, a calma. Não queria movimento de carros, caminhões e barulho à sua volta. Então, matutou e decidiu que o que iria receber não compensava aquilo que iria perder. Penso que decidiu bem, valorizou aquilo que lhe era mais importante.
Então, pensando assim, do alto de minha janela, do meu observatório, é que pretendo ver as coisas, fazer as minhas observações, sem pressa, com calma, tomando a minha água gelada, pensando no que escrevo, escutando os meus pensamentos, a minha vontade, tirando um dedo de prosa comigo mesmo, com aqueles que eventualmente forem ler, tomando, quem sabe o seu café com pão de queijo.
Esta a razão da existência deste observatório.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo observatório espiritual do Morro das Contas.Seus textos são belíssimos, de profunda reflexão. Já frequentei anos a doutrina espirita e tenho muita afinidade com seus pensamentos. Sua calma e gentileza, expressas em suas palavras, irradiam felicidade. Obrigado.

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