quinta-feira, 8 de abril de 2010

A ajuda da tia

Ele chegou e foi falando pra tia:

- Me ajuda tia, me ajuda...

Ela, que era professora, sentiu alguma coisa estranha, mas não se deu conta da presença do rapazinho. Ele prosseguiu:

- Me ajuda tia, me ajuda... Estou ferido...

Aquela manhã a professora não passou bem, uma sensação estranha a acompanhou. Tantas vezes, no dia de reunião mediúnica, era assim: sentimentos diferentes, pensamentos angustiados... Porém, como tinha que trabalhar, deu as aulas programadas. Todavia, sentiu que não desenvolvera bem a matéria, como planejara.

Como já lecionava há bastante tempo, percebia que em certos dias era mais difícil explicar a lição aos alunos e manter a disciplina: aquele fora um desses. E, além disso, sentia o coração apertado. Como se não bastasse, depois da aula, ainda atendeu a dois pais de alunos que havia chamado para conversar. Sua manhã foi cheia.

Se com professora era experiente, como médium também era. Deste modo, chegando em casa, na hora do almoço, tratou de abrir um livro de páginas edificantes e fazer uma prece. Sentiu-se melhor, mas o aperto no coração não passou totalmente. Vida de médium tinha dessas coisas, pensou.

No almoço comeu pouco, pois estava sem apetite. Ademais, no dia de reunião mediúnica recomendava-se refeições leves, de digestão mais fácil. Como se diz popularmente, lambiscou a comida. Depois, lavou a louça e foi ver um pouco de televisão. Para sua sorte, zapeando os canais, encontrou um programa sobre a vida de Chico Xavier. Ela adorava Chico. A série dos romances de Emmanuel lera toda, os de André Luiz idem. Os livros de Chico lhe traziam muita paz e ao lê-los desligava-se da vida. Depois do programa conseguiu dormir e sonhou com alguém ferido pedindo ajuda.

E o garoto prosseguia:

- Me ajuda tia, me ajuda... Ninguém quer saber de mim tia... Esse pessoal que fala comigo eu não conheço... Me leva pro hospital, tia... Tô ferido...

Ele a havia conhecido na escola. Ela tivera paciência com ele e o tentara ajudar, durante as aulas e fora dela. Sabe-se lá porquê interessara-se pelo menino e, quando podia, conversava com ele, recomendava que saísse daquela vida, que estudasse, que procurasse outras companhias e interesses. De nada adiantara. O garoto continuou envolvido com drogas. Deu no que deu.

Como professora era dedicada, procurava dar o melhor de si, preocupada com aquela criançada que estudava na escola pública onde dava aula. Com esmero preparava suas aulas. Se outros não tinham a mesma dedicação, ela fazia sua parte.

Além das dificuldades com os alunos, havia também as dificuldades da escola. Instalações precárias, baixos salários, pouca valorização e reconhecimento de seu trabalho, mas enfim...seguia adiante. Para sua sorte, não dependia daquele salário para viver, pois seu marido ganhava bem, o que não era a situação de muitos professores, que tinham que correr de uma escola para outra a fim de dar uma vida condigna para suas famílias.

O garoto, por sua vez, não entendia sua situação, pois com aquelas feridas abertas no peito deveria estar morto, no entanto, estava vivo. O que teria acontecido? – Pensava. Morrer não tinha morrido, afinal estava vivo e baleado. Viu um enterro que diziam ser dele, mas não acreditou. E a família chorando? Por que razão? No entanto ninguém lhe deu assistência. Muito estranho...Tentou falar com os amigos, mas ninguém respondeu, a não ser uma gente esquisita que zombava dele: - Perdeu, Mané...Perdeu... Dançou, vacilão!...

Sem saber para onde ir resolveu ir para a escola onde havia estudado, encontrando, naquela manhã a professora, que tanto se interessara por ele. Por isso repetia: - Me ajuda tia... me ajuda...

Passou o dia atrás dela, indo à noite foi para uma casa diferente, iluminada. Desde a entrada percebeu um clima diferente. Não era todo mundo podia entrar. A casa possuía uma vigilância firme, mas cordial, à sua volta.Era uma espécie de polícia muito educada e diferente daquela que estava acostumado a lidar. Para sua surpresa o deixaram passar. Então, pensou que sua passagem deveria ter sido liberada por causa da tia, recebida naquele local com cordialidade.

Subiu a escada junto com ela e entrou numa sala comprida cheia de pessoas em volta de mesa, num clima de muito respeito. Ele tratou de se aquietar. Sua cabeça pareceu desacelerar e seu coração parecia mais leve. A dor das feridas entretanto continuava, um pouco melhor, talvez.

Percebeu que era um ambiente de muito respeito e que a tia também se comportava com muita educação. Em seguida, leram uns livros e falaram coisas bonitas a respeito de Deus e de Jesus. Aquilo mexeu com ele. Lembrou-se dos conselhos da família, especialmente do seu avô. Recordou-se das conversas com a tia, que várias vezes lhe falara sobre Jesus, mas que ele nunca havia escutado. Depois, fizeram uma prece e diminuíram as luzes. Ele ficou com certo receio, mas a presença da tia o tranqüilizou.

Percebeu que algumas pessoas que haviam entrado na sala com ele eram chamadas por uns senhores, que pareciam enfermeiros ou médicos, e convidadas a se aproximar das pessoas sentadas à mesa, que soube serem chamadas de médiuns. Então, parecia que levavam um choque e desandavam a falar. Reparou ainda que aquilo era um tipo de tratamento, que ele não conhecia, mas que aqueles que haviam falado eram ajudados e em seguida sentiam-se muito melhor. Era como se fosse um hospital, mas diferente dos hospitais comuns. Ainda bem que viera com a tia – pensou. Então lhe chamaram: - Sua vez. Pode se aproximar da médium. Ah, então era isso, a tia era médium!

Aproximou-se dela, sentiu um tremido, uma emoção e lhe deu um grande abraço. Daí desandou a falar e desabafar sua dor:

- Me ajuda... Me ajuda...

- Calma meu filho - lhe disseram – você foi trazido aqui justamente para se ajudado.

- Onde estou? O que aconteceu comigo?

- Você não se lembra?

- Eu fui pego numa emboscada, me cobriram de tiros, mas estou aqui, vivo, mas todo machucado. Me ajuda... me ajuda...

- Calma, meu filho, neste momento você está num local para tratamento. Aquela vida que você tinha, já não mais a tem. Agora você está num outro plano, na espiritualidade.

- Eu morri  então? Eu  morri!

- Calma meu filho, você não morreu, apenas desencarnou. Nós temos muitas e muitas vidas, voltamos à Terra muitas e muitas vezes para irmos aos poucos aprendendo a amar ao próximo e para crescer espiritualmente.

A tia emocionou-se. Quando sentiu o abraço, imediatamente lembrou do rapaz que havia sido morto vítima da violência no tráfico de drogas, que havia sido seu aluno. Como havia conversado com ele, lhe aconselhado e falado sobre Jesus. Na sua mente veio sua imagem, todo machucado, como no sonho, só que agora o via de um jeito muito mais nítido: era ele. A emoção dela se envolveu com a do rapazinho.

E o menino falou e desabafou, sendo esclarecido sobre muitas coisas. Ao final, pediram que lhe acompanhassem numa prece.

- Agradeça a Deus meu irmão. Eleve os pensamentos aos céus... – Ele foi acompanhando e sentindo-se bem – Imagine-se num lugar calmo, tranqüilo, um lago, o vento batendo ao redor e respire calmamente. Pense em Jesus, o médico das almas, lembre-se do seu amor pelas criaturas e vamos fazer a oração que ele nos ensinou: Pai nosso, que estais nos céus...

Enquanto a prece era feita, a equipe médica espiritual agia, tratando e cicatrizando as feridas, fechando-as uma a uma. A dor foi passando, passando...

- Estou bom! Estou bom!... Graças a Deus... Ah se eu houvesse escutado... Se eu houvesse ouvido... – E desandou a chorar, num misto de arrependimento e alegria.

- Acalme-se meu filho, agradeça a Deus. Agora siga os enfermeiros que estão lhe ajudando para que mais tarde você possa obter muitos outros esclarecimentos.

Deste modo, mais um espírito necessitado foi atendido na reunião mediúnica, sendo levado para tratamento e orientação.

Quanto à tia, continua ajudando, seja como professora ou como médium, àqueles que necessitam.



Muita paz.

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