terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O peixeiro

Quando morava na antiga rua Barros, na casa de meus pais, durante a infância, via passar pessoas apregoando suas mercadorias: o peixeiro, o vendedor de tringue-lingue, o amolador de facas...Ainda havia leiteiro e padeiro que entregavam a mercadoria em casa, anotando no caderno para pagar no fim do mês. Entre aquela época e a de agora muitos anos se passaram, pois estou falando de coisas que não são mais comuns. Minha mulher diz que sou saudosista, no que talvez tenha certa razão, mas quero lembrar destes mercadores, digamos assim, para lembrar de um deles: o peixeiro.

Este último era um negão alto, forte, de sorriso largo, que passava carregando um cesto no alto de sua cabeça, onde levava os peixes para vender. Olha a tainha!...Corvina!...Xerelete!...E as pessoas desciam, viam, escolhiam e levavam aquilo que queriam para casa.

No campo das idéias, penso que deva ser exatamente assim. Cada um tem o direito de expor o que pensa, cabendo aos outros aceitar ou não o que foi exposto. Como no caso do peixeiro. Este peixe quero, aquele não. Ou, com se faz na feira. Escolhe-se a laranja, o tomate, o abacaxi. E leva-se para casa aquilo que se deseja.

Hoje em dia a oferta de informação é enorme. Jornais há inúmeros. Revistas idem. Livros, pode-se ler em papel ou na internet. Músicas, compra-se os CDs, baixa-se os arquivos na rede, troca-se com os amigos. No google, no yahoo, ou em muitos sites de pesquisa, obtém-se as mais variadas informações. O mundo do conhecimento é enorme e não temos condição de apreendermos todo o universo de informações que existe à nossa volta.

Sócrates, filósofo e sábio, possui uma frase famosa: Só sei que nada sei. Se Sócrates dizia não saber nada, muito menos eu. Ora, sei um pouquinho de algumas coisas, afinal, trabalho, vivo, produzo, sustento mulher e dois filhos. Então, algum conhecimento possuo. Porém, em relação ao volume de conhecimentos humanos disponíveis, que sei eu? Se pudéssemos reunir todo o saber humano numa piscina, o que sei poderia ser comparado a uma gota d’água. Assim, devo me curvar à inteligência socrática e dizer, como ele: só sei que nada sei.

Apesar de não saber nada sobre muitas coisas, uma coisa eu sei: a vida continua, a morte não existe e nós somos espíritos eternos. Isso eu sei e estou dizendo a você que me lê. Aliás, Sócrates, foi um dos precursores desta idéia, pois quinhentos anos antes da vinda de Jesus, já pressentia a existência da alma, tal como consta na introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo.Veja extrato do que disse Sócrates aos seus juízes, conforme consta no Evangelho Segundo o Espiritismo, que transcrevo parcialmente:

“ XI. De duas uma: ou a morte é uma destruição absoluta, ou é passagem da alma para outro lugar. Se tudo tem de extinguir-se, a morte será como uma dessas raras noites que passamos sem sonho e sem nenhuma consciência de nós mesmos. Todavia, se a morte é apenas uma mudança de morada, a passagem para o lugar onde os mortos se têm de reunir, que felicidade a de encontrarmos lá aqueles a quem conhecemos! O meu maior prazer seria examinar de perto os habitantes dessa outra morada e distinguir lá, como aqui, os que são dignos dos que se julgam tais e não o são. Mas, é tempo de nos separarmos, eu para morrer, vós para viverdes.”

Pois eu digo a você, que tanto Sócrates, como eu, como qualquer pessoa, seja rica, pobre, bela ou feia, brasileira ou estrangeira, terá o prazer de reencontrar na espiritualidade as pessoas com quem convivemos na Terra. Nossa vida não termina aqui.

Quanto ao exame da vida das pessoas na espiritualidade, referido por Sócrates, André Luiz, através da mediunidade de Chico Xavier, nos deu muitos notícias, na série de livros que começa com “Nosso Lar”.

De todo modo, posso ser questionado quanto ao fato de afirmar que a morte não existe. E, para pensar assim, no campo de minha vida via pessoal há uma explicação: sou médium há mais de dez anos e todas as semanas vejo manifestações espirituais. Melhor dizendo, dou passividade aos espíritos. Nestas ocasiões tenho pensamentos que não são meus, idéias que não são minhas, vejo coisas que não vivi, falo de um jeito que não é meu. São os espíritos que se manifestam.

A reunião que freqüento é formada por pessoas comuns, que trabalham e tem sua via cotidiana - professora, funcionário público, aposentado, policial, entre outros, trabalhando juntos. E todos participam, lêem, se informam e sabem da existência da vida após a morte. Digo isso para mostrar que cada dia é mais comum esta idéia, que já não causa mais estranheza nem espanto.

Sobre o assunto, existem os cinco livros básicos da doutrina espírita, que são: Livro dos Espíritos, Livro dos Médiuns, Gênese, O Céu e o Inferno e o Evangelho Segundo o Espiritismo. E ainda as obras complementares: Chico Xavier, por exemplo, escreveu mais de quatrocentos livros sobre o assunto; Divaldo Franco, outros duzentos. Na literatura também pode ser verificada a realidade da reencarnação.

Só para concluir, do pouco que sei, digo com toda segurança: a vida continua. E isto é muito bom. Somos espíritos eternos. Vamos nos reencontrar muitas e muitas vezes. Esse é o meu peixe: o da vida eterna. Posso dizer que é um peixe da melhor qualidade. Quanto a levá-lo, ou melhor, aceitar esta idéia, não depende de mim. Sou apenas um peixeiro. Leva o peixe quem quiser. Afinal, somos livres para fazermos nossas escolhas.

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